Saíram de Moçambique depois de um banho nas águas do oceano índico, e outros nas margens do Rio Púnguè e Zambeze, uma cerimónia do tipo mágico tradicional académico, atravessaram o Atlântico e chegaram ao Brasil, tímidos e assustados depois de uma viagem com escala em
Joanesburgo, bem perto de Maputo, contudo, diferente, foi o primeiro susto, aeroporto grande, escadas rolantes, muitas lojas e bares, os estudantes contemplam, professor este aeroporto é “big”, olha só a quantidade de aviões de várias companhias aéreas, puxa pá, isto sim, é aeroporto internacional, diz um dos estudantes feito poeta da sociedade, os outros concordam enquanto andam em fila quase indiana, pelos corredores. Quase todos estudantes viajam pela primeira vez de avião para fora do país. Ainda estamos em Joanesburgo, escala para Guarulhos, São Paulo, a caminho de São Luís do Maranhão onde nos espera o evento Caminhos Amefricanos, programa de intercâmbio Sul-Sul, Edição Brasil, entre os dias 18 de novembro e 02 de dezembro.
De Moçambique partiram dezoito intercambistas, dez estudantes da Universidade Pedagógica de Maputo acompanhados por três docentes e quatro estudantes da Universidade Púnguè acompanhados por um docente. A comitiva moçambicana chegou a São Luís do Maranhão na terça-feira (19), e desde então tem vivido uma experiência simplesmente fantástica. Encontrar nesta cidade do Nordeste do Brasil uma comunidade negra vibrante, foi o primeiro acto marcante na noite de 20 de novembro, no vibrante Centro Histórico de São Luís do Maranhão, local que se transfigurou com o festival de música, artesanato e gastronomia de matriz afro-brasileira, naquilo que foi a primeira celebração do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, como feriado nacional no Brasil.
Os nossos jovens não resistiram ao compasso do passo da música negra e, qual foi o delírio quando a Rival de Twenty Fingers tocou bem alto para o gáudio de todos, rivalizando com outros ritmos negros e quilombolas. Nós também somos daqui, estamos em casa, este Brasil é maningue nice, sinto o calor da Mãe África’, era o que mais se ouvia na fala dos moçambicanos já misturados com intercambistas de Cabo Verde e da Colômbia, igualmente participantes do Programa Caminhos Amefricanos.
Quinta-feira (21), Universidade Federal do Maranhão (UFMA), o Auditório Central completamente lotado por uma multiracialidade de partocipantes, com predominância para negros e pardos, acolhe o Acto Solene pela Igualdade Racial, evento que viria a ficar marcado pelo Anúncio das Edições de 2025 do Caminhos Amefricanos; Assinatura de Acordo de Cooperação Técnica com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e Divulgação dos Resultados da Pesquisa “Amefricanidades nas Universidades”.
Muita solenidade durante o evento que teve um Dispositivo Solene (Mesa de Presídio) muito concorrido com mais de dez personalidades, de entre elas a estudante Marta Fissa da UPMaputo que fez a saudação em representação dos
intercambistas de Moçambique, Cabo Verde e Colômbia.
Das intervenções de saudação destaque-se as falas de Gerson Pinheiro, Secretário de Igualdade Racial no Governo Estadual do Maranhão, que vincou a importância do evento e referiu que o Estado do Maranhão é comprmetido e muito tem feito em prol da população negra, quilombola e de matriz africacana. Márcia Lima, Secretária Nacional de Acções Afirmativas, Combate e Superação do Racismo no Ministério da Igualdade Racial (MIR), destacou o compromisso do MIR com as políticas públicas de redução das desigualdades através do fortalecimento de uma educação antiracista. Eraldo Ricardo dos Santos, Gerente Adjunto do SEBRAE, centrou a sua fala no estágio actual do empreendedorismo negro no Brasil e os desafios enfrentados, chegou mesmo a dizer, em jeito meio a brincar, que alguns empreendedores negros tem de vender o almço para comprar o jantar. Um dos intervenientes mais aplaudido foi a moçambicana Florbela Fernandes Representante no Brasil do Fundo de População das Nações Unidas, que anunciou a dispnibilidade do UNFPA de criar pacotes de apoio para jovens negros e vulneráveis, no sentido de aumentar o nível de acesso ao ensino formal e reduzir a vulnerabilidade e exposição aos riscos. As honras da casa estiveram a cargo do Reitor da UFMA, Fernando Carvalho, que mostrou enorme satisfação de a sua universidade estar a receber a edição brasileira dos Caminhos Amefricanos. Por estes dias, vive-se na UFMA, com mais intensidade um ambiente afro-brasileiro, africano e da diáspora africana. O Caminho Amefricanos aproxima-nos e léva-nos nessa viagem em busca da nossa ancestralidade.
O programa é vasto e estão a ser dias de encontros de reviver, a ida ao Quilombo Rosa dos Pretos, merece uma crónica a parte, para já fica o registo de uma vivência de um dia com a comunidade quilombola, um regresso ao passado escravagista e uma viagem no Atlântico num navio negreiro com ondas no mar rumo a um desconhecido território que agora conhecemos. Chegamos por via dos Caminhos Amefricanos, nós de Moçambique e nossos primos de Cabo Verde, mais claros, mas, todos escravos, éramos pretos, uns continuam pretos, outros viraram pardos, todos quilombolas agora em busca de uma afirmatima presença sem perder a identidade trazida desse passado que teima em contnuar. Aqui chegamos, estamos no Quilombo.
Fotos: Brasil Midia – Saride Maíta
Texto: Eliseu Sueia
GCI-UPM, Maranhão
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